Sábado, 11 Agosto 2007 na Contemporânea
Sentar-se à beira da roda-de-choro na Contemporânea aos sábados, a partir das 11 horas da manhã, é sempre uma experiência diferente. Nunca se sabe o que vai acontecer naquele “pagode” (ou seria sarau?). Às vezes os músicos não arredam pé de suas prerrogativas de somente tocar seus bandolins, cavaquinhos, violões de 6 ou 7 cordas, pandeiros, tumbadoras etc... e “selvagemente” excluem qualquer participação em sua roda, de elementos canoros, mais conhecidos como cantores.
Certos músicos, de hábitos dos mais extravagantes, como “afinar o bandolim apoiando-o em sua cabeça” - sim! Existem tipos dos mais incríveis na roda-de-choro – são particularmente ferozes na sua recusa em acompanhar simples mortais cantores. Outros, de tipo um pouco mais brando, simplesmente fazem caretas, ou, quando interpelados a acompanhar um pobre cantor, dizem: “- Vou tocar só esse choro, e o próximo é seu”. Só que este choro se transforma em 3 ou 4, e o pobre coitado do cantor vai lamber sua ferida em algum canto, inventa uma visita ao banheiro, ou simplesmente atravessa a Rua General Osório para afogar a rejeição (pública) num copo de “51” ou outro destilado qualquer.
Hoje, dia 11 de Agosto, particularmente, foi muito peculiar, pois a plateia estava bem reduzida em relação a outros Sábados. A roda-de-choro, ou chorões, como dizem outros, também estava em número menor. Cá entre nós, eu sei porque certo bandolinista [de pouco cabelo na cabeça] não apareceu hoje... é que ele se sentiu ultrajado pelo aparecimento de um outro bandolinista rival (que, dizem, vive em Paris, França) com um banjo infernal, que cobriu o som de todos os instrumentos no último sábado. O primeiro se retirou indignado quando o “banjeiro” não se “mancou” e continuou a “atropelar” a roda... Mas isso está mais para ‘Mexericos da Candinha’ do que propriamente para uma ‘crônica’.
O choro continuava a todo vapor quando houve um certo rebuliço perto do nosso banco, pois uma loira altíssima (quase platinada) vestida numa calça-comprida de fazer babar os “velhinhos” locais, e cabelos compridos do mais intenso dourado, que escorriam pelas suas costas e ombros, foi levada à roda pelas mãos de seu marido. Aliás, a loira estava sentada do meu lado, e eu nem tinha percebido que havia ali uma “estrela”. A loira sorriu a todos, fez alguns gestos com a face e se recusou a ficar no meio da roda de músicos, preferindo sentar-se humildemente numa cadeira de lado, de onde, aos sons de violões e bandolins, interpretou “Eu sei que vou te amar”, com a ajuda de toda plateia. A loira fez cara de tímida, fazia que ia, quase não ia, mas foi... e terminou a canção sem dar maiores vexames. Recusou terminantemente um bis e foi se esconder por ali mesmo, enquanto os músicos atacavam com seus números instrumentais.
Agora era a vez de Maria Luiza, a ítalo-brasileira, nascida na rua Sto. Antônio, no Bexiga, mas domiciliada na Vila Prudente, com passagem obrigatória pela Mooca, que é baixinha, mas tem um aparelho vocal de dar inveja a loiras altas e robustas. Maria Luiza arrasou na interpretação de “Devolvi”, popularizada pela saudosa Nubya Lafayette, além de ter vendido toda sua cota de CDs que tinha em sua bolsa. Cantou dois números (tinha cantado 2 anteriormente).
O público exigiu mais, mas os músicos não atenderam aos pedidos e chamaram a Maria, que cantou “Malandro”, de Jorge Aragão & Jotabê, seu ‘piece-de-resistance’, onde foi naturalmente acompanhada por coro geral. Maria, que hoje apresentava um penteado novo à base de muitas escovadas, aproveitou o embalo e seguiu com um pequeno “pot-pourri” de “Olhos verdes” (Vicente Paiva), “Isto aqui, o que é?” aka 'Sandália de prata', de Ary Barroso, gravada por Moraes Neto & Orquestra Fon-Fon em 1942) e “Faceira” (de Ary Barroso, gravação de Sylvio Caldas em 1931), curiosamente uma junção contraditória de dois estilos contraditórios; o chamado Ufanista, nas duas primeiras canções, e o ‘Malandrista’, tão execrado pelo Estado Novo, que inclusive proibiu certos sambas de Wilson Baptista por fazerem “apologia à vadiagem”, na última, que descreve um personagem que”‘tem visage e dá rasteira no pessoal”. Acho que esse foi o ponto alto do sarau de hoje.
Depois da apresentação magnífica da Maria, que até momentos antes dormia em sua cadeira, depois de ter traçado (minutos antes) uma bela feijoada no bar-restaurante de frente da loja, a loira sentiu-se encorajada e pediu para cantar novamente... e dessa vez ela ficou de pé, entoando os primeiros acordes de “A deusa dos Orixás” (Romildo-Toninho) um ponto-de-candomblé do LP 'Claridade' (1975) de Clara Nunes. ‘Iansã, cadê Ogum?’, a loira repetia, primeiro só olhando para o lado da parede esquerda (de quem vem da rua) e depois, já ensaiava uns passos de samba, o que fez com que os olhos de velhinhos, e certos rapazes mais afoitos, se arregalassem. Fui informado de que ela é ‘loira de farmácia’... mas assim mesmo espanta... e além de tudo a loira tem duas filhas adolescentes, com vastas cabeleiras de assustar até o elenco da peça “Hair”; cabelos longuíssimos... se ajuntassem o volume de cabelo da mãe e duas filhas, daria para fazer perucas para todos os velhos carecas do lugar – eu, incluso – e ainda sobraria material para chanéis dos mais variados.
Ah, o marido da loira é um exímio violonista e não brinca em serviço.
Maria Luiza vendeu muitos CDs nesse sábado. Acompanhada de Mario Beltrame (bandolim); Jahyr Pavão (violão 7 cordas); Lula (cavaquinho); Pedrinho & Carlão no pandeiro, maraca, bumbo e réco-réco. Gravação realizada em 2005 no Clube Macri (Nossa Seresta), do Roberto Fioravanti, as terças-feiras das 20:00 as 22:30, na Rua Oscar Horta, 86, Moóca. Maria Luiza cantava às segundas-feiras na Pizzaria do Angelo na Rua do Oratório, 638, Moóca.
Sábado, 18 Agosto 2007 - MONDO CONTEMPORÂNEA
Mais um sábado ensolarado, ainda de um agosto meio frio; e nada melhor do que dirigir-se em direção à Cracolândia para uma manhã de chorinho na loja Contemporânea. Nunca pensei que o termo ‘crack’, que em inglês significa ‘pipocar’ (pois é justamente isso que acontece com a escória da cocaína quando colocada sob fogo), fosse sinônimo de algo alegre. Meio semelhante com a denominação “choro”, que não é necessariamente triste pois o “choro” musical pode ser bem alegre. Sendo dia de vacinar cães e gatos contra a raiva, presenciei vários desses espécimes sendo picados com agulhas pelos fiscais da saúde em plena Praça Princesa Isabel. Alguns davam pequenos latidos quando injetados, e percebi que os gatos eram mais ‘corajosos’ que os cães.
Ao chegar à rua General Osório notei que os banheiros dos bares e restaurantes não estavam funcionando devido ao racionamento de água em São Paulo. Tomei um cafezinho e rumei em direção à loja do sr. Miguel. Os “cobras” costumeiros não estavam presentes, mas o “choro” não pode parar. O bandolinista Osvaldo aka Mosca, aquele que afina seu instrumento em cima de sua cabeça - tocou 2 ou 3 e já estava se preparando para ir embora, para alegria de alguns. Antes que o Osvaldo se alongasse muito em seus solos, o João do Macacão, violonista da roda, começou a tocar e cantar “Me deixa em paz" (Se você não me queria não devia me procurar...), samba de Monsueto Menezes, cantado originalmente por Linda Baptista para o Carnaval de 1952. O público cantou junto. João emendou com “Coqueiro velho” (Fernando M.Filho-José Marcílio, gravado por Orlando Silva em 1940) e “Inquietação” (Ary Barroso, gravado por Sylvio Caldas em 1935). Só soube os títulos pois Vander Loureiro tinha acabado de chegar e fez seu costumeiro papel de ‘cicerone’ musical: quando não sei o nome de uma canção, pergunto a ele, ou a quem estiver por perto.
Veio então o Nelson Gonçalves-dos-pobres, que encontrou um jeito de se engraçar com o Arnaldinho, que estava um dínamo ao cavaquinho, e conseguiu cantar seu repertório manjado. Até que hoje ele foi simpático, embora tenha semi-tonado algumas vezes. Tentou cantar “A deusa da minha rua”, com Jamil ao violão de 7 cordas, mas a coisa degringolou de vez. Ele, realmente, não pode se afastar de “Nersão”, seu mentor, pois dá xabú. Ensaiou cantar “Pensando em ti”, mas acabou vocalizando “Marina”, de Caymmi.
Wanda, a moça que sempre faz dueto de “Esse seu olhar”/ “Só em teus braços” (Antonio Carlos Jobim) com o Turquinho, resolveu apresentar algo diferente, e agradou: cantou “Doce de coco” com muita maestria, e completou o segmento com “Esses moços”, do Lupicínio. Ela disse ao Vander que o Turquinho tem andado doente ultimamente.
O próximo foi um gordinho que sentava perto de mim, que convenceu o Arnaldinho a dar-lhe uma chance, e cantou “O mundo é um moinho” de Cartola e “Alvorada” de Carlos Cachaça, enquanto seu filho gravava tudo num minúsculo MP4, que a Thais disse custar mais de 250 reais.
“Sansão”, cujo nome verdadeiro é Orlando, cantou “Minha rainha” (de Lourenço-Rita Ribeiro, gravada por Noite Ilustrada), como sempre, só que o povo resolveu não acompanhá-lo no coro dessa vez. Ah, o refrão seria o fatídico: “Ai, amor!”.
O velho senhor que sempre canta “Nega manhosa” (Herivelto Martins) cantou-a novamente: 'Levanta, levanta nega manhosa / deixa de ser preguiçosa / vai procurar o que fazer / Nega, deixa de fita / prepara a minha marmita / levanta nega / vai te virar'... e bisou com “Beija-me” (Roberto Martins-Mario Rossi, gravação de Cyro Monteiro de 1943) que sempre agrada milhões, e foi cantada em coro pela maioria dos presentes. Agradou em cheio. Ele resolveu voltar logo em seguida, mas foi rechaçado por um dos músicos (em boa hora, diga-se de passagem).
Maria levantou-se e cantou “De volta p'ro aconchego”, de Dominguinhos, que sempre agrada a plateia, seguida de “Só vendo que beleza', mais conhecida como 'Casinha da Marambaia” (Henricão-Rubens Campos, gravada por Carmen Costa em 1942) e como bis ela fez uma salada paulista (ou seria russa?) apresentando “Leva meu samba” (Ataulfo Alves), seguindo com “Nêga” (Waldemar Gomes-Afonso Teixeira, gravada pelos Anjos do Inferno em 1949 e por Jorge Veiga em 1963) (“Nêga, não despreze o teu nêgo / do contrário eu vou morrer de dor”) e na metade mudou para “Amélia” (Ataulfo Alves-Mário Lago)... no interlúdio ela já não sabia mais se cantava uma música ou outra, confundiu “Amélia” com “Leva meu samba”. O Vander disse que ela deve ter tomado umas “manguaças” junto com a fatídica feijoada que ela traça aos sábados. Se não fosse o Arnaldinho, que a ajudou a se achar, ela teria passado vexame maior (do que passou). No final cantou seu “cavalo-de-batalha”, “Malandro”, do Jorge Aragão.
Vander Loureiro cantou em dois segmentos. Primeiro foi “Cigana” (Nonô-Paulo Roberto), do repertório do Sylvio Caldas, que se não fosse pela Thais eu não saberia o título. Mais tarde cantou seus sucessos “Por causa dessa cabocla”, “Morena boca de ouro”, “Feitio de oração” e uma nova (para mim): “Perfil de São Paulo”, música que Sylvio Caldas gravou na comemoração do IV Centenário da cidade de São Paulo.
O choro de hoje não foi dos mais significativos. Lá pelo final apareceu a cantora do Vai-Vai e sambou prá valer... cantou o samba que fala do “Bexiga” e o “Tiro ao Árvaro”, que foi cantado por todos... houve muita marcação com palmas também, o que dá a impressão de se estar numa sessão de candomblé. Hoje ela não desafinou, como quando canta “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá.
24 de Agosto de 2007, exatamente 53 anos da fatídica morte do Presidente Getúlio Vargas, morre nosso querido “Turquinho”, cantor e percussionista maior da turma que freqüenta a loja de instrumentos musicais Contemporânea. José Dias Marcolino era provavelmente descendente de portugueses ou italianos. Não se sabe porque tinha esse apelido pois tinha mais cara de italiano da Mooca do que árabe. E acho que posso ter acertado aí, pois ele era torcedor do Palmeiras, ex-Palestra Itália, nome que foi mudado quando o Brasil entrou na Guerra Mundial contra o Eixo, do qual a Itália era um dos 3 participantes.
Hoje foi dia de ‘morte’. Logo de manhã recebi um ‘scrap’ do Pedro, do Rio de Janeiro dizendo que soube, há alguns dias, que a Célia Vilela morreu. Fiquei chocado, pois afinal a Célia, que foi 'namoradinha' do Neil Sedaka quando ele visitou o Brasil, sendo também apresentadora de programas de rock na Radio Globo do Rio e TV Continental; enfim a rainha do rock do Rio de Janeiro. Como pode uma Rainha do Rock morrer? Embora ela fosse completar 70 anos em outubro.
Cheguei um pouco atrasado ao choro da Contemporânea, e assim que entrei a Thais soltou a bomba: “O Turquinho morreu!”. Arnaldinho já tinha feito uma homenagem a ele, com participação do ‘seu’ Miguel. Eu ainda estava apalermado com a notícia quando começaram a cantar ‘Andança’ (Paulinho Tapajós-Edmundo Souto-Danilo Caymmi) e o povo acompanhou forte mesmo; tão forte que encobriu totalmente a voz do solista. O salão de concertos estava apinhado de gente, mas, de-repente o local se esvaziou como num passe de mágica. Ficou aquela angústia no ar, sentindo-se a falta do Turquinho, que estava sendo velado, naquele momento, em algum lugar de Santo André, para ser sepultado às 16:00 hs. Que coisa mais surrealista!
O Turquinho era a ‘alma da festa’. Bastava chegar, pegava um pandeiro, entrava no meio da roda e cantava seus ‘sambas paulistas’... muito Adoniran Barbosa, Bexiga, Mooca e Bráz. “Com a corda Mi do meu cavaquinho, fiz uma aliança prá ela, prova de carinho...”, nunca mais vou esquecer dele.
O mais absurdo de tudo foi a música que cantaram em homenagem ao falecido: “Mãe solteira' (sub-entitulada de 'Tocha humana' ou 'Maria da Penha') de Wilson Baptista-Jorge de Castro, gravada por Roberto Silva), que conta a história de uma moça solteira que, descobrindo estar grávida e sabendo que o pai da futura criança não a levará ao altar, embebe suas roupas de álcool, risca um fósforo, entra em combustão, e rola pela ribanceira abaixo até um final dolorido. Eu sempre achei essa música indecente, mas era uma das músicas favoritas do Turquinho. E não é, de certa maneira, irônico que justo essa tragédia-em-forma-de-música tenha sido objeto de homenagem ao Turquinho?
Mais tarde apareceu aquele cantor de voz muito potente [...] que fez uma justa homenagem a ele que nos abandonou: cantou, sambou e gritou o nome “Turquinho” varias vezes, saindo da roda chorando. Maria Luiza, que estava sentada do nosso lado (meu e Thaís) disse: “- Não posso ver ninguém chorando que choro também”. Eu pensei que ia chorar também, mas as coisas por lá passam muito rapidamente. Não dá para “dormir no ponto”, pois algo novo está sempre acontecendo, o que não deixa de ser bom... muito dinâmico!
Vou sentir saudade daquele som que o Turquinho fazia estalando a língua para marcar o compasso da musica; algo que só ele (e o pai das ‘Três Choronas’) sabia fazer. Sempre quis reproduzir esse som, mas nunca consegui... agora o professor morreu.
Apareceu a Silvilí, com a qual o Turquinho fazia dueto em músicas de dupla-cada-um-cantando-uma-melodia. Falei que ela tinha ficado sem parceiro. Ela chorou junto com o marido. Ela disse que o Turquinho era diabético. Ninguém sabia a idade dele. Ele tinha “sumido” ultimamente; e me lembro que a última vez que eu o vi, ele já devia não estar se sentindo bem, pois ficou muito pouco tempo por lá, e não sorriu. Até pensei que ele tivesse brigado com alguém; mas qual o que... era a morte se aproximando.
Foi um sábado triste, mas mesmo assim pode se dizer que o trágico sempre se mistura com o cômico. Ridículo é o João Sorriso tocar um bandolim totalmente desafinado. Afinado em outro tom que o resto dos músicos. Foi uma tortura chinesa. Ou seria uma tortura franciscana? O Vander, que tocava timba, levantou-se e cantou “Cigana” (Sylvio Caldas) e em seguida ‘os pés sujinhos de terra’ ('Por causa daquela cabocla', de Ary Barroso), que já se tornou um hino local.
Daí a ‘Clara Nunes’ da Contemporânea, que finalmente descobrimos o nome, com uma pequena ajuda da Maria Luiza... seu nome é Eurides Macedo (a cantora preferida da Thais), cantou “Linda flor" (Ai yoyô) considerado como o primeiro samba-canção da história, musica de Henrique Vogeler, letra de Luiz Peixoto-Marques Porto, gravada por Aracy Cortes em março 1929 como 'Yayá'; “Olhos verdes” (Vicente Paiva) de 1950 e “Canto das Três Raças”, que fez muito sucesso na hora do coro cantar ôôôôôô !
O Sansão (Orlando) aproveitou a deixa e lascou “Quem há de dizer” (Lupicinio Rodrigues-Alcides Gonçalves, gravada por Francisco Alves em 1948) e “Louco” (Ela é seu mundo) de Wilson Baptista-Henrique de Almeida, gravada por Aracy de Almeida em 1946 - que sempre agrada a galera.
Maria Luiza levantou e deu seu recado com o samba “Portela na avenida” (Mauro Duarte-Paulo Cesar Pinheiro) gravada por Clara Nunes para o Carnaval de 1982, e uma “valsa-seresta”, “Uma grande dor não se esquece”, do acordeonista Antenógenes Silva, que a princípio nenhum dos músicos sabia, até a Luiza protestar: “- O João do Macacão sabe!”, como querendo dizendo: “- Siga o líder, seus burros!”. No fim deu tudo certo; até a percussão deu sinal de vida. Ah, a valsa-seresta é em Lá menor... a Luiza fez questão de me mostrar a anotação em seu ‘caderninho mágico’.
Os músicos tocaram “5 de Julho” (Donga) gravada em 1974 e outros choros até aparecer aquele cantor da Vai-Vai para cantar “Meu fraco é mulher” (Cyro Monteiro) e já emendou um “Malandro” (Jorge Aragão), que sempre faz sucesso, seja cantado por ele ou Maria. Ah, a Maria já tinha partido com seu companheiro para outras plagas. Ninguém foi ao enterro do Turquinho, o que eu achei meio peculiar. Afinal ele era um membro respeitado dessa comunidade... mas parece que o pessoal não quer perder uma “deixa”, quando se trata de “cantar”, “dar uma canja”... êta pessoal “fominha”. Deus-me-livre!
Ah, esqueci de dizer que a Eurides apresentou um samba “partido-alto” de um compositor que estava lá no momento e fez propaganda de seu CD. Parece que todo mundo lá já gravou seu CD. Eu e Thaís compramos o CD da Maria Luiza há duas semanas. Vale como ‘documento’, e vale também como ‘material de pesquisa’, já que é bom conhecer o repertório daqueles que viveram antes de nós. A Luiza é ótima cantora ao vivo, mas a gravação de seu CD foi bem amadorística não fazendo jus à sua arte que é infinitamente superior ‘au naturel’. Por falar na Luiza, ela tinha cantado dois sucessos da Isaurinha Garcia antes de eu chegar: “Aperto de mão” (Horondino Silva-Jayme Florence-Augusto Mesquita, gravação de novembro de 1942) e “De conversa em conversa” (Haroldo Barbosa-Lucio Alves, gravação de 1946, acompanhada pelos Namorados da Lua).
Acho que foi o principal que se passou hoje pela Contemporânea. Foi um dia atípico, sem dúvida, pois a presença ou a falta da presença do Turquinho foi que deu a tônica de tudo. Se eu fosse Espírita e acreditasse no “além da morte” eu diria que o Turquinho foi fazer serenata no céu [ou umbral] junto com o Adoniran e o pessoal dos Demônios da Garôa, que aliás, ele fez parte em uma das inúmeras formações do conjunto. Valeu Turquinho... nós continuamos a “segurar a peteca” por aqui até o nosso dia chegar. (written by Carlus Maximus).
1st March 2009 -
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