Wednesday, 21 May 2025

Thaís Matarazzo written by Gui Castro e Neves on 12 January 2023

THAIS MATARAZZO (1982-2023) foi a mais prolífera pesquisadora memorialista que tivemos. Desconheço outro que tenha produzido – e vivido – tanto em tão curto tempo de vida. A quantidade de encontros, eventos, entrevistas, programas, textos e livros que realizou, jamais serão precisamente contabilizados, assim como a imensa significância deste prodígio precoce para um “país sem memória”. E detalhe: Independente.

Apesar da nossa diferença de idade de apenas 11 dias (Geminianos), quando ela entrou na minha vida eu era já seu fã, leitor, seguidor. Na época, ela se desfazia do seu gigantesco acervo, o qual distribuiu por doação entre diversas instituições. Seus discos 78 rpm, por exemplo, tiveram que ser divididos entre duas entidades, vide que uma delas não possuía condições de abrigar a coleção completa. Foi assim que por duas ocasiões, Thais veio de São Paulo – de ônibus – trazendo uma caixa enorme em tamanho e peso com material da sua coleção de presente para mim! Da primeira vez eu mal podia acreditar, tomei um susto.

Foi ela quem me publicou pela primeira vez em livro, quatro ao todo. Foi ela quem me alertou sobre pessoas que provaram que ela estava certa. Foi ela quem garantiu que muitos projetos fossem concretizados para muita gente. Foi ela quem resgatou as Irmãs Meireles para os dois lados do Atlântico e até esteve com Cecília & Aurora Miranda! Abordou personagens e acontecimentos nunca antes revisitados em publicações.

Adorava o Rio de Janeiro, que tantas vezes homenageou, e estivemos juntos em diversas das suas inúmeras vindas à cidade, muitas delas com a sua mãe, sempre delicada e gentil. Algumas das mais memoráveis, foram quando a levei para conhecer a estátua de Clarice Lispector no Leme e quando conseguimos autorização para visitar as ruínas do Dancing Avenida (1944-69). E das nossas tantas fotos, escolhi esta por ser da única vez que nos encontramos na sua terra, na sua São Paulo, junto do espetacular Carlus Maximus, meu pesquisador brasileiro favorito e um duo perfeito com Thais.

É tudo muito triste e injusto, porém Thais Matarazzo viveu mais e maior do que muita gente com o triplo dos seus recursos e o dobro da sua idade. Serei sempre muito agradecido a ela, que de fato fez diferença na minha vida, na minha história. E concluo com uma quadra portuguesa que ela adorava – e adaptou – do António Aleixo (1899-1949), a qual apresentou para mim sabendo que eu a tomaria de modo pessoal:

“Quem canta por conta própria quer,

Com muita razão

Antes ser pardal da rua

Do que rouxinol na procissão.”